Perspectivas da Felicidade e Ambiente Corporativo | por Ana Vitória Billac

Um mecanismo de produtividade e eficiência que corrobora na busca pela excelência profissional

  

                                                            

Comenta-se, com frequência, a respeito da concepção de felicidade, as possibilidades de seu alcance, ou, de sua frustração. Muitas pessoas estão sempre em busca de uma vida cheia de prazeres e gratificações e, para isso, não medem esforços para alcançar a referência do mencionado sentimento. Esses prazeres, em regra, buscados diariamente, são físicos e passageiros, que vêm através de sensações ligadas a emoções positivas.

Segundo o filósofo inglês Thomas Hobbes, no livro Leviatã[1], a “felicidade é um contínuo progredir de desejo, de um objetivo a outro”. Isto é, trata-se de um sentimento que constantemente é buscado pelo indivíduo, visando o alcance de suas pretensões.

No mesmo assunto, Aristóteles[2], em sua obra “Ética a Nicômaco”, defendeu não existir um consenso a respeito do verdadeiro conceito da felicidade. O filósofo grego ressalta que a maior virtude da alma é o exercício do pensamento e são necessários elementos como a boa saúde, liberdade e uma boa situação socioeconômica para que as pessoas sejam, de fato, felizes.

O ser humano, naturalmente ambicioso, seja na vida pessoal, ou, profissional, acaba sendo induzido a acreditar que a felicidade está totalmente ligada aos bens materiais, às conquistas financeiras e a um estilo de vida de acordo com seus valores e ideais pessoais. Isso decorre das crenças que transcendem as gerações, ou seja, cada pessoa acredita naquilo que lhe foi ensinado e, quando madura, busca, acredita-se, ser melhor em cada área da sua vida.

Robert Waldinger, psiquiatra e professor da Universidade de Harvard (Harvard Medical School), disponibilizou, na plataforma TED – Tecnologia, Entretenimento e Design[3] , interessante palestra nominada “Do que é feito uma vida boa?”, promovida juntamente com seu grupo de pesquisadores, que realizaram um estudo longitudinal que durou cerca de 75 (setenta e cinco) anos para descobrir o real sentido e significado de uma vida feliz.

Na referida pesquisa, acompanhou-se a vida de 724 (setecentos e vinte e quatro) indivíduos, colhendo-se amostras de sangue e observando a rede neuronal, o gerenciamento da atividade do sistema nervoso pelo cérebro das pessoas objeto da pesquisa. A conclusão foi no sentido de que as boas relações mantem as pessoas mais felizes e mais saudáveis.

Isto é, aquelas que têm mais ligações sociais com a família, amigos e no ambiente de trabalho, são consideradas mais felizes, mais saudáveis e até vivem mais tempo do que as mais isoladas socialmente.

E nesse contexto, o estudo apontou que a felicidade se embasa na qualidade dessas relações, não no quantitativo de pessoas aproximadas. O nível de qualidade das relações com as pessoas do convívio diário é muito importante o que, segundo Waldinger[4], detém influência direta na concepção de felicidade para o ser humano.

Ou seja, se uma pessoa possui bons relacionamentos, com intimidade, liberdade, cumplicidade, no qual se sente completamente à vontade para ser quem ela é, mostrar sua essência, sem medo de compartilhar suas ideias e pensamentos, constatou o estudo que ela pode ser considerada mais feliz do que um indivíduo com relacionamento social muito amplo, mas sem aprofundamento na qualidade.

Opina-se, assim, que manter um vínculo forte e duradouro com um grupo mais seleto de pessoas é mais favorável do que relações superficiais com incontáveis comunidades.

Feita essa primeira digressão, passemos ao mundo corporativo. Quando se fala em felicidade no ambiente de trabalho, faz-se necessário considerar um conjunto de fatores que influenciarão no estado de espírito de cada pessoa incluída naquele grupo.

Destaca-se, dentre eles, a vocação como uma das formas mais satisfatórias de trabalho, pois gera, em regra, satisfação ampla e, consequentemente, aumento da eficiência. Este estado de plenitude resulta do fato de que o ser humano, na profissão vocacionada, está exercendo atividades compatíveis com seus interesses, habilidades e competências. Desse modo, é atingida a felicidade, que supera as crenças de que as recompensas materiais são as principais razões para o trabalho.

Por outro lado, muitos associam o labor com uma obrigação e um meio de sobrevivência, não vislumbrando a possibilidade de ser feliz no local do trabalho. É certo que as demandas profissionais devem ser diariamente cumpridas e, muitas vezes, promovem desanimo, cansaço, stress…

Entretanto, esses fatores podem ser superados. Para que o trabalho e as relações decorrentes não se tornem sobrecargas repetitivas, o indivíduo deve buscar se reinventar cotidianamente, trazendo, ele próprio, para o seu ambiente de trabalho, a criatividade, entusiasmo, sua total disponibilidade, fomentando oportunidades que, somadas a estes mecanismos, gerarão maior produtividade e excelência, abrindo espaço para, então, consequentemente, propiciar o sentimento de felicidade.

Portanto, tem-se que, ao realizar um trabalho que de fato supra anseios pessoais, com competência e com promoção de um clima organizacional adequado e propício, o ser humano atinge a satisfação no exercício de sua profissão, provando que é sim possível ser feliz no espaço corporativo.

Poder-se-ia dizer que a aptidão profissional, unida ao bem estar pessoal no trabalho, somados ainda ao bom ambiente laborativo, resultam em aumento de produtividade, eficiência na execução e excelência nos resultados, dando início a um ciclo vital amplamente satisfatório.

A constante busca pela felicidade é sinônimo de bem estar social, como já citado acima, e está relacionada também à saúde mental do ser humano. Para a felicidade no trabalho ser um mecanismo de produtividade e excelência, imprescindível, então, que o trabalhador/colaborador tenha certeza das suas forças pessoais e limites alcançáveis para atingir os seus objetivos naquela profissão.

A aptidão para trabalhar em equipe também é uma competência altamente desejada, pois, as pessoas de convívio diário, ou, colegas de trabalho, estando em harmonia entre si, possibilitam que as obrigações sejam cumpridas pontualmente e com leveza, imputando qualidade e aperfeiçoamento nas demandas do profissional no dia a dia.

O professor de psicologia e ex-chefe do Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago e do Departamento de Sociologia e Antropologia em Lake Forest College, Mihaly Csikszentmihalyi, conhecido pelo seu trabalho no estudo da felicidade e pelo seu estudo da noção de “flow”[5], defende que quando o ser humano está concentrado em algo que o faça sentir prazer, ele acaba criando uma realidade diferente e este momento pode ser considerado de êxtase, resultando em total foco na efetivação de tarefas. [6]

O psicólogo afirma, ainda, que esta é uma experiência tão intensa que as pessoas têm uma sensação de serenidade e clareza, como se o tempo não existisse. Csikszentmihalyi ressalta, também, que é provocado um estado de “fluidez” nos indivíduos que encontram satisfação no exercício de atividades laborativas duradouras.

Também sobre o sentimento ora debatido, Dalai-Lama, na obra “O livro da Sabedoria”[7], destaca que “se alguém realmente deseja uma vida feliz, é muito importante recorrer a meios tanto externos quanto internos.”.

Interpreta-se os dizeres do líder espiritual no sentido de que o desenvolvimento mental, material e espiritual são importantes para compor os valores e princípios de qualquer ser humano que pretenda alcançar a felicidade.

Por fim, é possível dizer que a felicidade no mundo corporativo pode resultar em um mecanismo de produtividade, eficiência e excelência nos resultados, caso condicionado a junção do bem estar social.

Para tanto, imprescindível a percepção individual de que somos responsáveis por criar nosso próprio caminho e oportunidades, promovendo uma boa convivência com os colegas de profissão; exercendo constantemente a empatia com as outras pessoas; ter prazer em fazer aquilo que se propôs (mesmo sabendo que alguns momentos serão mais difíceis); colaborando para um bom clima organizacional; além de ser necessário buscar o equilíbrio entre o corpo e a mente, para que o verdadeiro estado de felicidade seja alcançado.

Seguindo essas diretrizes, conforme embasado pelos amplos estudos apresentados ao longo deste Informativo, pode-se dizer que tudo fluirá para que o profissional alcance os objetivos, atingindo, consequentemente, o estado de satisfação e realização pessoal que se converte no sentimento de felicidade.

Ana Vitória Albergaria Bilac Pinto

Estagiária Acadêmica

(31) 3261-8083

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[1] HOBBES, Thomas. Leviatã. Ed.Martin Claret.2008

[2] ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco Livro X. Ed. Atlas. 2009.

[3] WALDINGER, Robert. What makes a good life? Lessons from the longest study on happiness. Dez. 2015. Disponível em: https://www.ted.com/talks/robert_waldinger_what_makes_a_good_life_lessons_from_the_longest_study_on_happiness?language=pt-br . Acesso em: 26. Nov. 2020.

[4] idem

[5] Estado mental em que a pessoa está completamente focada naquilo em que está fazendo, caracterizado por um sentimento de sucesso.

[6] CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. “What makes a life worth living?” Noting that money cannot make us happy, he looks to those who find pleasure and lasting satisfaction in activities that bring about a state of “flow.” Feb. 2004. Disponível em: https://www.ted.com/talks/mihaly_csikszentmihalyi_flow_the_secret_to_happiness#t-4149 . Acesso em: 27. Nov. 2020.

[7] LAMA, Dalai. O livro da Sabedoria. Ed. Martins Fontes. p.5. 2000.

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